Projeto VIVA +

sábado, 4 de julho de 2020

SUPERLOTAÇÃO DE TRANSPORTES PÚBLICOS.



A QUESTÃO É PSICOEMOCIONAL.


Fala sério mano, pegar metrô em São Paulo hoje, é como estar fugindo do fim do mundo, de forma desespera.  Já vivi em São Paulo por uns 15 anos e também estive recentemente e fiquei muito preocupado (pra não dizer perplexo), com a superlotação da linha 3 (que vai da Barra Funda até Itaquera).  Eu tentei pegar o metrô, já do lado leste, para tentar chegar à Rodoviária Tietê.  Mas foi em vão, pelo menos neste sentido.  Então o peguei (mesmo lotado), para o terminal Itaquera, para ver se conseguia um lugar pra sentar.  Fui obrigado à chegar no final da linha, para que, na famosa “dança das cadeiras”, eu conseguisse um lugar.  Quase não consegui.

Enquanto sentado e esperando chegar a estação da rodoviária, fui refletindo sobre este excesso de lotação e cheguei à algumas conclusões (pelo o que já conheço da humanidade em meus estudos).   Percebi que essa superlotação não se dá apenas por trabalhadores que precisam chegar ao seu local de trabalho.  Há muitos fatores que influenciam o comportamento das pessoas, que preferem pegar os primeiros horários dos trens e ônibus, para não só pra chegar cedo ao seu trabalho mas, da forma lotada à que se submete e se orgulha (apesar de reclamar).  Reclamar e orgulhar-se, são imposições inconscientes distintas, presentes em todo ser humano.

A sensação de sentir-se abarrotado(a) entre tantas outras pessoas, está no complexo psicológico de não sentir-se amparado quando durante seus primeiros meses de vida, tendo a mãe que sair cedo para trabalhar, deixando seu pequeno aos cuidados de terceiros.  Vamos ser sinceros e racionais, o ser humano não faz mais, o tipo afetivo como outrora, nem mesmo entre seus próprios familiares. O Paulistano por exemplo, sempre opta, (já por vício), em conversar sempre brigando, discutindo intempestivamente para impôr a sua razão perante os demais.   Tão intenso é o calor da discussão (enquanto dura) que, se eu pusesse uma arma de fogo nas mãos de apenas um deles, fatalmente apertaria o gatilho.  Enquanto vivi nesta cidade, tive inúmeras oportunidades de perceber o mesmo comportamento, em inúmeras situações e em diversos lugares.  A carência afetiva tornou-se uma dependência.

Outro vício do ser humano, está no hábito de se colocar em filas e, não apenas isso, defendê-la como seu próprio território, chegando quase à brigar quando alguém tenta furar a fila.  Resumindo, o paulistano não é muito sociável, ao mesmo tempo que sente a necessidade de estar próximo (mesmo sem saber ao certo, o porque), como uma forma de compensação à perda do período de simbiose (período em que o recém-nascido deseja ardentemente estar perto da mãe, não apenas para se alimentar do leite materno, como também do calor do corpo da mãe, durante este gostoso e prolongado período.  Como isso lhe foi tirado, seu inconsciente gravou essa sensação de frustração e agora, depois de crescido, vive repetindo feito um disco arranhado, na ânsia de satisfazer psicoemocionalmente seu corpo, colocando-o em meio à lotações de transportes públicos, sempre abarrotados, representando o “calor” do afago roubado, não importando o destino da sua viagem.

Qualquer que seja a razão usada para justificar sua presença em meio à um ônibus ou trem abarrotado, será sempre uma desculpa para estar ali, naquelas condições.  Não fosse isso, os seres humanos seriam pessoas mais “flexíveis” à adaptação de mudanças, provocadas por diversos motivos (entre eles a pandemia de coronavírus).  Muitas pessoas ficam desesperadas, quando uma situação o mantém distanciado de centenas de outras pessoas (mesmo não demonstrando mas) sentindo enorme carência e medo de solidão, o que sempre justifica estar entre acúmulo ou aglomeração de pessoas, mesmo diante de situações que ofereçam riscos às suas vidas.

Ver locais em São Paulo, como o Brás, Praça da Sé, Anhangabaú, zona leste, Centro Paulistano, Rodoviárias, entre tantos outros (sempre lotadas), antes de ser um pretexto de trabalho, é uma necessidade de estar sempre em contato com pessoas, ao ponto de nem pensar na sua auto preservação, nos cuidados ao coronavírus.  Se estou errado, prova para mim, mudando seus hábitos de deslocamento para outros horários que não os de pico, quando os transportes públicos não estão tão cheios.  

Muitas pessoas já nem reclamam quando está em uma fila, eles à protege como à um território.  Ele briga quando tentam furar fila, porque temem “serem deixados para trás” (psicologicamente falando), como quando sempre se sentiu, quando ainda um recém-nascido.  E olha que não são poucos, já que o fenômeno ocorre mundialmente, ou seja, mais do que um hábito, um condicionamento contínuo, comportamental, com influências pregressas.

“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro.  Mas a real tragédia da vida é quando os homens tem medo da luz.”    (Platão)


 Professor Amadeu Epifânio
 Pesquisador/Psicanalista Autodidata.










What do you want to do ?
New mail

Nenhum comentário:

Postar um comentário