A QUESTÃO É PSICOEMOCIONAL.
Fala sério mano, pegar metrô em São Paulo hoje, é como estar
fugindo do fim do mundo, de forma desespera.
Já vivi em São Paulo por uns 15 anos e também estive recentemente e
fiquei muito preocupado (pra não dizer perplexo), com a superlotação da linha 3
(que vai da Barra Funda até Itaquera).
Eu tentei pegar o metrô, já do lado leste, para tentar chegar à Rodoviária
Tietê. Mas foi em vão, pelo menos neste
sentido. Então o peguei (mesmo lotado),
para o terminal Itaquera, para ver se conseguia um lugar pra sentar. Fui obrigado à chegar no final da
linha, para que, na famosa “dança das cadeiras”, eu conseguisse
um lugar. Quase não consegui.
Enquanto sentado e esperando chegar a estação da rodoviária,
fui refletindo sobre este excesso de lotação e cheguei à algumas conclusões
(pelo o que já conheço da humanidade em meus estudos). Percebi que essa superlotação não se dá
apenas por trabalhadores que precisam chegar ao seu local de trabalho. Há muitos fatores que influenciam o comportamento
das pessoas, que preferem pegar os primeiros horários dos trens e ônibus, para
não só pra chegar cedo ao seu trabalho mas, da forma lotada à que se submete e se orgulha (apesar de reclamar). Reclamar e orgulhar-se, são imposições inconscientes distintas, presentes em todo ser humano.
A sensação de sentir-se abarrotado(a) entre tantas outras
pessoas, está no complexo psicológico de não sentir-se amparado quando durante
seus primeiros meses de vida, tendo a mãe que sair cedo para trabalhar,
deixando seu pequeno aos cuidados de terceiros.
Vamos ser sinceros e racionais, o ser humano não faz mais, o tipo afetivo como outrora, nem
mesmo entre seus próprios familiares. O Paulistano por exemplo, sempre opta, (já por
vício), em conversar sempre brigando, discutindo intempestivamente para impôr a
sua razão perante os demais. Tão
intenso é o calor da discussão (enquanto dura) que, se eu pusesse uma arma de
fogo nas mãos de apenas um deles, fatalmente apertaria o gatilho. Enquanto vivi nesta cidade, tive inúmeras
oportunidades de perceber o mesmo comportamento, em inúmeras situações e em diversos lugares. A carência afetiva tornou-se uma dependência.
Outro vício do ser humano, está no hábito de se
colocar em filas e, não apenas isso, defendê-la como seu próprio território,
chegando quase à brigar quando alguém tenta furar a fila. Resumindo, o paulistano não é muito sociável,
ao mesmo tempo que sente a necessidade de estar próximo (mesmo sem saber ao
certo, o porque), como uma forma de compensação à perda do período de simbiose
(período em que o recém-nascido deseja ardentemente estar perto da mãe, não
apenas para se alimentar do leite materno, como também do calor do corpo da mãe,
durante este gostoso e prolongado período.
Como isso lhe foi tirado, seu inconsciente gravou essa sensação de
frustração e agora, depois de crescido, vive repetindo feito um disco arranhado,
na ânsia de satisfazer psicoemocionalmente seu corpo, colocando-o em
meio à lotações de transportes públicos, sempre abarrotados, representando o “calor”
do afago roubado, não importando o destino da sua viagem.
Qualquer que seja a razão usada para justificar sua presença
em meio à um ônibus ou trem abarrotado, será sempre uma desculpa para estar ali,
naquelas condições. Não fosse isso, os seres humanos seriam pessoas mais “flexíveis” à adaptação de mudanças, provocadas
por diversos motivos (entre eles a pandemia de coronavírus). Muitas pessoas ficam desesperadas, quando uma situação o mantém distanciado de centenas de
outras pessoas (mesmo não demonstrando mas) sentindo enorme carência e medo de
solidão, o que sempre justifica estar entre acúmulo ou aglomeração de pessoas,
mesmo diante de situações que ofereçam riscos às suas vidas.
Ver locais em São Paulo, como o Brás, Praça da Sé, Anhangabaú, zona leste,
Centro Paulistano, Rodoviárias, entre tantos outros (sempre lotadas), antes de
ser um pretexto de trabalho, é uma necessidade de estar sempre em contato com
pessoas, ao ponto de nem pensar na sua auto preservação, nos cuidados ao coronavírus. Se estou
errado, prova para mim, mudando seus hábitos de deslocamento para outros
horários que não os de pico, quando os transportes públicos não estão tão
cheios.
Muitas pessoas já nem reclamam quando está em uma fila, eles à protege como à um território. Ele briga quando tentam furar fila, porque
temem “serem deixados para trás” (psicologicamente falando), como quando sempre se sentiu, quando ainda um
recém-nascido. E olha que não são poucos, já que o fenômeno ocorre mundialmente, ou seja, mais do que um hábito, um
condicionamento contínuo, comportamental, com influências pregressas.
“Podemos
facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. Mas a real tragédia da vida é quando os
homens tem medo da luz.” (Platão)
Professor
Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista Autodidata.
What do you want to do ?
New mail
Nenhum comentário:
Postar um comentário