COMO SE VÊ ALÉM DE SI MESMO
?
Vou começar este artigo, relembrando a frase do
Pensador Fiódor Dostoiévski, quando
diz: “Se queres vencer o mundo inteiro,
vence-te à ti mesmo”. Esta frase
conta com dupla interpretação, isto é, induz o pensamento que devemos nos
preparar, quando para nos atirarmos em alguma aventura ou batalha e, a segunda
interpretação nos reporta ao interior de nós mesmos, numa viagem nunca antes
feita e, muito menos se quer, imaginada.
Vencer à ti mesmo é atirar-se para dentro (não do corpo humano), mas
para o interior dos nossos pensamentos, desejos e feridas, todos desejando
ardentemente ser expulsos de dentro de suas prisões pois, enquanto lá
estiverem, estarão nos incomodando.
Numa ordem cronológica, primeiro ocorre em nós uma
ferida de natureza psico emocional. Em
seguida manifestamos o desejo de tirá-la de nós, dada a dor que nos causa. Por
último o pensamento, o qual arquitetará a forma de vencer as resistências desse
desejo. Não é simples nos livrarmos das feridas emocionais. A grande maioria as pessoas mal sabem que às tem,
muito embora induza à reações individuais, ao mesmo tempo que variadas, com o
intuito de exibir ao mundo que há algo de errado consigo, na ânsia de que
percebam e nos ajudem, mas infelizmente a humanidade jamais se preparou para
este tipo de desafio e acabam também reagindo indiferente às nossas reações (em
razão dos sintomas).
Por mais que nos incomode, o ser humano não consegue
ser investigativo e tentar descobrir o que está acontecendo (porque nunca foi
treinado para isso). Por isso ele sofre
(não pelo o que passa), mas pelo o que não entende. Desenvolve reações e manifestações que podem
ferir à si próprio ou à terceiros de várias maneiras e intenções, proporcionais
à concepção que a ferida interior (e invisível), lhe causa. Muitas são as influências que nos fazem agir
impulsivamente, à começar por dentro e estimuladas externamente, através do
ambiente que vivemos e frequentamos.
Como passamos a vida, mais reagindo que agindo, não nos sobra tempo para
reflexões, para ao menos deduzir o que nos passa.
Nossas feridas são nosso desprazer, as quais não
conseguimos nos livrar, por mais que queiramos e tentamos, simplesmente por nos
fornecer uma visão diferente do mundo que vivemos. Para nossa ferida, o mundo não existe por si
só mas, para nos atingir e tirar nossa paz e tranquilidade. Não é uma visão alucinógena, apenas
deturpada mas, suficiente para alterar nosso norte em relação à vida que
precisamos levar, seja laborativa, social, familiar ou solitária.
Pare o que está fazendo, observe como a ferida se
apresenta pra você e defina o que quer, estabelecendo um novo foco
(independente de tudo). Nada haverá de ser maior ou mais relevante
que este foco. Que seja ele
contínuo, sem prazo certo para concluir, mas que tenha um propósito, para que
sua busca seja determinante e indiferente às resistências que surgirem, para neutralizá-lo. Se possível escolha mais de um foco com
propósito, cuja atenção seja prazerosa (não forçada para evitar a ferida). É uma ferida psicológica e, para isso, devemos
combater “fogo, com fogo”. Cabeça vazia, oficina de nossas feridas e
laboratório de reações indesejadas.
Areia movediça. Por essa razão o
foco há de ser de natureza prazerosa, determinante e contínua.
Feridas podem esconder-se no medo, na insegurança, no
egoísmo, na avareza, acomodação, autoritarismo, ressentimento, impaciência e
tantos outros. É preciso antes,
identificar e reconhecer o problema, para saber como abordá-lo ou
tratá-lo. Identificar a intensidade e as
limitações que me impõe. Aceitá-lo como
um vírus, letal apenas à medida que o considero como sendo mais forte que
eu. É hora de fortalecer focos e
priorizá-los. Não deve ser considerado uma disputa de território. Você é
seu território, está dentro do seu próprio castelo, portanto mais fácil de
agir e manter seus focos. A ferida se
manterá neutralizada e ignorada, não precisando dar nenhuma atenção. Com o tempo sua mente entenderá (e manterá) o
que for mais relevante para manter sua vida psicoemocionalmente estável. Se não estabelecer seus focos, seu
inconsciente escolherá outras opções (indesejadas) para conter os sintomas
resultantes da ferida, como álcool, drogas e outros.
Vivemos
pela percepção da vida que levamos e da perspectiva de futuro que temos. Ou seja, nada é
definitivo, tudo pode ser alterado e pra melhor.
De várias formas podemos enfrentar nossos temores, primeiro
identificando-os e qualificando, depois reconhecendo nossa capacidade em
ignorá-lo, focando no que for mais importante. Se não pedimos para ter nossas
feridas, não precisamos “fazer sala” pra elas, tendo coisas mais relevante pra
fazer e valorizar. Espiritualmente
falando, temos nossas dívidas carnais para enfrentar e resgatar porém, não
significa ficar parados e sofrendo por isso.
Muito menos significa uma fulga deste propósito (desde que usemos nossa
vida para propósitos certos, produtivos e evolutivos). Deus nos fez fortes e sábios e é o que nos
torna diferentes entre os outros, isto é, o quanto de sabedoria usamos para o
bem.
A melhor maneira de ajudar alguém com uma ferida
assim, é não censurar e mostrar-se solidário e sincero. Pessoas que passam por sofrimento, podem identificar falsidade à
distância. Alterações repentinas de
comportamento e humor, podem ser os sinais, de que essas feridas podem estar
influenciando mais do que se imagina.
Hora de procurar ajuda profissional de um terapeuta cognitivo, para tratar, não as feridas mas, as alterações causadas por ela, para não perder
o foco pré-estabelecido, lembram ?
Precisamos
resolver nossos monstros secretos,
nossas
feridas clandestinas, nossa insanidade oculta.
(Michel Foucault)
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista Autodidata.