CONHECENDO
AS CRISES, GATILHO E INTENSIDADE.
Meus queridos amigos e leitores, à
muito venho estudando e pesquisando comportamentos sob diversas circunstâncias
e estímulos (estudo esse que eu chamo de Personalidade
Reativa Comportamental). Pesquisando
sobre transtornos psiquiátricos, a maioria deles, não é apenas uma patologia,
mas uma forma de linguagem e de comunicação, entre dois períodos, isto é,
passado e presente. Mais precisamente é
o passado nos cobrando algo que ficou pendente lá atrás e que acredita que só
seremos felizes ou termos uma vida plena, quando essa comunicação for enfim,
estabelecida.
Muitos dos transtornos são
"construídos" na infância, enquanto outros ainda na fase
intra-uterina (ou gestacional se preferirem), mas não como um vírus que se
contrai no ar. A combinação de alguns
fatores é que são responsáveis pela formação de um transtorno, que poderá
também não se consumar se não
satisfeitas algumas condições. Esses
fatores basicamente são: A ocorrência de
um evento ocorrido com a criança ou com o feto (se dentro ainda do útero) + a idade física dela + a severidade deste evento (não
precisando ser necessariamente grave e se houver) + seu ambiente de convivência.
O evento em si, conforme dito (e
repito), não precisa ser necessariamente grave para que se construa na criança,
o que mais tarde poderá se transformar num transtorno específico. Isso mesmo, não é na hora do evento que o
transtorno se constrói, mas no andamento e desenvolvimento desta criança, da li
para frente, que poderá também não se consumar.
O evento pode ter causado um
impacto mais forte que o habitual, para que uma criança ou um feto considere
como de natureza grave (como um abuso por exemplo) ou, sem gravidade, mas que a
criança poderá adotá-lo como tal, apenas por não conseguir definir ou entender
o ocorrido.
Quando isso acontece e, como é dever
de uma parte de nossa mente proteger o corpo que o abriga e conduz em todos os
aspectos (também no psíquico e emocional), a mente bloqueia essa informação,
retirando da lembrança, pra que acriança se desenvolva psicoemocionalmente bem,
para que possa mais para frente, ser lembrada para então tomar ciência,
resolver (o que tiver de resolver) e por fim, apagar de vês esta pendência do
seu inconsciente.
Mas existe um problema. No momento que a mente entende que é hora de
fazer lembrar essa pendência (às vezes ainda na fase infantil ou juvenil), essa
lembrança se faz de forma inconsciente, o
que leva esta criança à manifestar reações e sintomas de auto defesa, quase
nunca compreendidos, nem por ela mesma e nem pelos pais. Em alguns casos (dependendo de cada
transtorno e de cada pessoa) essa tentativa de fazer o corpo lembrar, é
suspensa até um momento futuro, na adolescência por exemplo.
Para entendermos um pouco mais sobre
isso, vamos considerar que na ocorrência de um evento, forma-se junto um
cenário em torno do nosso protagonista, que é a criança. Neste cenário está contido uma série (ou alguns)
quesitos que, dependendo do ambiente onde ocorre o evento, podem ter cortinas,
música, pessoas e suas vestimentas, suas vozes e hábitos, ventilador de teto,
ar condicionado, enfim, todo um cenário.
E por que isso é relevante ?
Vou lembrá-los de um fato curioso que
já deve ter acontecido com alguns de vocês, queridos leitores. Existem momentos em que, caminhando ou se
dirigindo à um destino específico, de repente algo que vemos ou ouvimos, nos
reporta em fração de segundos ao passado, nos fazendo relembrar um episódio
específico que nos aconteceu, como o diálogo com uma pessoa ou determinada cena
de um filme. Já não ocorreu isso com
vocês ? (comigo acontece quase sempre).
Isso acontece por causa de uma coisa que eu chamo de processo (ou método) associativo, onde
uma imagem ou sentido específico atua como gatilho para nos fazer recordar
fatos que jurávamos já estar esquecido ou apagado dentro de nós.
Pois bem, esse método associativo é o
principal causador, que faz recordar sempre (ou nem sempre apenas) o evento
gerador do transtorno, mas alguma parte do cenário criado quando da ocorrência
deste mesmo evento. O que explica a
dificuldade de se tentar descobrir a causa do transtorno que uma pessoa leva
consigo, pela variedade de fatores que existem para serem lembrados.
Entre a lembrança do evento e a crise,
existe um fator intermediário, responsável pelo gatilho da crise, que é a
tolerância (ou falta dela). O mecanismo de disparo da crise se dá
da seguinte forma. O método associativo
faz a ligação entre presente e passado, isto é, volta ao momento em que o evento
se deu (em razão de um estímulo presente).
Segundo Freud, o tempo no inconsciente não existe, o que significa que a
recordação do evento virá junto com as mesmas sensações e intensidades
correspondentes sentidas, como medo, ansiedade, pânico, insegurança, etc,
acompanhando também as crises (o que explica a elevada intensidade com que as
mesmas se manifestam).
Isso nos leva ao gatilho da crise,
como ? Com a recordação do evento +
a sensação sentida + fato de não sabermos a procedência
dessas sensações (origem inconsciente) + a
baixa tolerância em suportar tudo isso, transferimos a demanda de uma resposta
de auto defesa aos nossos impulsos que, tendo que atender "pra ontem"
a demanda, ele se valerá do que estiver ao alcance para atender, que poderá ser explosão emocional (ou crise
explosiva), visões, vozes e outros, cuja a mesma se dará de
maneira involuntária, não cabendo, portanto culpar-se, punir-se, flagelar-se
ou ter ideações suicidas, como auto penitência.
Pela ordem então, temos:
EVENTO>CENÁRIO>LEMBRANÇA>SENSAÇÃO>INTOLERÂNCIA>IMPULSOS>CRISE>DEPRESSÃO.
Existe um ponto onde esta cadeia pode
ser interrompida, tratada e até curada.
Na parte da intolerância, evitando
a transferência de ação de resposta que vem do inconsciente e com ela a
explosão emocional e conseqüentemente em seguida, a fase depressiva, que na
verdade não chega à ser depressão patológica mas, uma profunda sensação de
impotência diante de todos esses fatos.
Intolerância nos leva à auto-controle
que nos leva à baixa resiliência (a capacidade de absorver problemas e nos
levantarmos). Controlando a tolerância
(nossa paciência), evitaremos até mesmo de cair. Evidente que nos controlarmos emocionalmente
é difícil, principalmente como portadores de transtorno, o que nos faz lembrar
de que precisamos de ajuda para esta tarefa (cujo resultados já podemos ver no
fim do túnel com demasiada clareza).
Alguns passos são essenciais para
restabelecer nossa estabilidade emocional para voltarmos à ter uma vida plena. Entre esses passos está (Primeiro) no fato de saber o que realmente se passa em razão do
transtorno; Segundo, fazer uma auto-análise e descobrir onde realmente o
transtorno causa mais incapacidade e de que forma (para que possamos saber qual
remédio e para quê precisamos, por quanto tempo e para qual período do dia). Terceiro,
que existem terapias (convencionais e alternativas) que podem ajudá-lo(a) à
promover sua estabilidade emocional, para gradativamente ir diminuindo a
quantidade de crises, intensidade e duração das mesmas. Quarto,
saber que transtornos psiquiátricos são na verdade, influências
psicológicas inconscientes, provenientes de processo de lembranças.
Quinto, seu inconsciente acredita que você só
terá vida plena quando descobrir e resolver o que ele quer te fazer recordar (a
vida toda, diga-se de passagem). Isso
pode ser resolvido, tentando convencer seu inconsciente de que você pode ser
feliz do jeito que é, sem a necessidade de lembrar o passado. Mas como convencemos "alguém" de
que estamos bem ? Estando bem, não é
verdade ? De forma que, seja qual for a
forma de terapia escolhida, ela tem que lhe trazer resultados
progressivos. Terapia é como reforma que
fazemos em casa, tem que haver progressos ou mudamos de "engenheiro"
rsr Não será logo nas primeiras sessões,
mas que também, não leve a vida inteira.
Lembrem-se, um mesmo transtorno é
vivido de forma diferente por diferentes portadores (ou todos de um mesmo
transtorno, tomariam uma mesma medicação).
Significa que cada transtorno em cada pessoa, está relacionado com seu
histórico de vida pessoal. Vocês carregam um "inquilino"
dentro de vocês, está na hora de conhecê-lo melhor para conviver bem.
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista Auto-didata.
Contatos E-mail: contato_amadeu@yahoo.com