Uma mina plantada dentro do próprio lar.
A
analogia parece ser um tanto drástica (admito), porém, não está
muito longe de sua real expressividade. Eu vou mostrar.
O
que acontece com um depressivo na fase adulta (a partir da sua
adolescência) é produto da influência de seu inconsciente
machucado, em algum momento de sua infância precoce, ou seja, entre
os 3 e 6 anos de idade, aproximadamente.
Mas
porque essa idade ? Por ser um momento delicado e sensível na vida
de uma criança, quando a inocência ainda à impede de compreender
certos momentos da sua vida, restando apenas absorver e
obrigatoriamente aceitar, mesmo que lhe cause tamanha dor.
Quando
um sentimento ultrapassa o limite de suportar (em razão, repito, da
ausência significativa de entendimento), o mesmo é gravado em seu
inconsciente, em local específico e destinado às nossas
experiências emocionais), em condição suspensa enquanto não é de
alguma forma cobrada.
O
momento fatídico à que me refiro consiste na ofensa feita à
criança, de caráter depreciativo. Coisas do tipo: “Você nunca
faz nada direito” ou “Nunca vai ser nada na vida” ou “Você
não leva jeito pra nada”, etc. Essas frases (bem como outras de
mesma natureza), por si só não causaria tanto estrago, não fosse
também pelo fato de quem às dissesse.
Isso
mesmo, o que causa estrago não são bem as palavras. Quando me
refiro à faixa etária precoce, além da inocência existe também o
fato de que toda criança (salvo exceções), tem verdadeira
idolatria aos seus genitores e outros parentes e, quando é um deles
(em geral os pais) que dirige aos filhos certas palavras de forma
ofensiva e depreciativa (ainda que em momentos de breve irritação),
causa impacto semelhante ao soldado que pisa numa mina e perde uma
perna, ou seja, é algo que fica marcado para sempre, porque fica
gravado em seu inconsciente como uma cicatriz que nunca se fecha.
Mas,
claro, todas as famílias passam por isso e nem todas tem em seus
membros, pessoas com depressão. Sem dúvida. Contudo, o que faz
diferenciar entre si, essas famílias, está justamente na sua
convivência, sendo esta, o fator que poderá (ou não) fazer
desenvolver na criança, sua depressão. Como assim ?
A
partir do momento que um trauma é desencadeado numa criança, ele
funciona como um “marco zero”, ou seja, estabelece o ponto de
partida para certificar-se se foi só uma vez ou ocorrerão outras
vezes. O fato de haver num ambiente a frequência de conflitos em
família, denota ausência de maturidade afetiva, levando o
inconsciente daquela criança (machucada emocionalmente) a sustentar
a prerrogativa de que a ofensa recebida não foi um acidente.
Para
o inconsciente (como administrador emocional), isso representa um
risco à estabilidade psíquica do corpo onde “reside”, de forma
que não deverá ficar com essa ofensa gravada por muito tempo,
devendo fazer com que seja o quanto antes, eliminado.
O
inconsciente espera então, que o corpo adquira idade e maturidade
para conhecer e entender o que se passou, do contrário acredita que
o corpo ficará com seu psicoemocional comprometido. Via de regra o
inconsciente espera que o corpo chegue à idade juvenil para fazer
lembrar-lhe do ocorrido porém, não de forma clara como gostaríamos.
O que ele faz é fazer lembrar apenas a emoção sentida por
ocasião da ofensa. O teor da emoção está diretamente ligado à
idade em que se começa os primeiros sintomas, que até pode ser (o
que eu chamo de) a pré-puberdade, ou seja, entre 8 à 12 anos. Não
sendo o trauma tão expressivo, essa idade pode chegar entre 14/16
anos (ou mais tarde, conforme o caso). Existe depressão de graus
diferentes.
A
partir do momento que se inicia os sintomas, a pessoa acaba sendo
submetida à um ciclo, onde a própria lembrança acaba desencadeando
outros sintomas, de forma ininterrupta.
O
que se sugere como tratamento são duas frentes de abordagem, ou
seja, de um lado uma medicação que lhe promova a retomada do seu
auto controle (como inibidor da influência inconsciente e para
corresponder melhor ao tratamento). A segunda forma é a terapia,
mais especificamente uma regressão, até o momento em que lhe
ocorreu o fator gerador da depressão, para fazer conhecer o trauma e
pôr fim a influência perturbadora.
A
regressão, nesses casos é indicada porque o depressivo, por sua
condição limítrofe, não conseguiria se manter ao tratamento
tradicional de sessões prolongadas, vindo a desistir antes de obter
os primeiros resultados.
Não
carece ficar tentando lembrar do que pode ter lhe ocorrido, porque a
lembrança é bloqueada e protegida, até que possa ser extraída por
terapia regressiva. Cabe aos pais agora, apenas o apoio, para que o
calvário seja logo extinto ou no mínimo, atenuado.
FATOR
COMUM
Algo
que é muito comum em depressivos é a baixa autoestima, em virtude
de sua condição atual, da falta de entendimento dos que lhe são
próximos, da falta de expectativa de melhora. É difícil dar dicas
quando as mesmas depende de outros fatores, como cooperação por
exemplo, de familiares, em fazer direito a “lição de casa”, sob
pena de queimar de vez, novas tentativas.
Uma
sugestão que faço é fazer uma lista de anseios, desejos e
conquistas do depressivo, de quando antes de manifestar os primeiros
sintomas. Os itens dessa lista deverá ser relembrado de forma
alternativa (nunca junto de uma só vez), acrescido de um pedido da
pessoa de quem ela mais estimava (antes da depressão), sob alegação
de fazer junto, estimular repetir o mesmo feito, etc. Não
significa dizer que não gostava dos demais, mas é comum, nessas
horas, termos uma ligação mais próxima de alguém.
É
preciso muito pouco para destruir uma pessoa, mas onde haja amor, não
é necessário que se leve a vida inteira para reconstruir a sua
vida.
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador / Psicanalista
PERSONALIDADE REATIVA COMPORTAMENTAL
Influência Pregressa em Respostas Emocionais