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segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PSICOPATA TEM CURA II


Porque a cura é possível ?


Ao contrário do que possamos imaginar, a (verdadeira) psicopatia tem cura.  Entende-se como psicopatia (não uma doença), mas uma condição psicológica (reversa, eu diria), isto é, quando as ações estão centradas apenas em instintos advindos de experiências passadas, vividas mas não compreendidas e, em razão disso, absorvidas em sua interpretação bruta (não lapidada).   Tais experiências podem estar centradas em apenas um único e doloroso episódio ou, numa sequência constante de vários episódios, todos em torno de um mesmo universo motivacional.

Este universo motivacional (e não o corpo que o abriga) é que será o responsável pelas ações que o (paciente) psicopata tomará, à fim de não só reviver seu passado, como vingar-se dos que lhe causaram tamanha dor (quando era ainda uma criança), seja sobre ela ou que ela tenha assistido alguém que ela muito gostasse, amasse ou viesse à idolatrasse, ser maltratado, agredido ou morto.

Devo reiterar uma observação que sempre passa batido por uma grande maioria de pessoas, quando se trata de mensurar a dor de alguém com idade muito inferior à sua, ou seja, crianças de idade de cinco à seis anos, bebês de pouca idade ou até mesmo, de um feto em formação.  A visão que muitos adotam nessa hora, é tentar imaginar a dor dessas crianças porém, na sua visão de adulto, o que representa uma grande e enorme disparidade, onde os “pequenos” sofrem o preconceito de se ver menosprezado, seu pequeno grande incômodo, perturbação ou sofrimento.   

O que uma criança de pouca idade, possa considerar como sofrimento, perder seu animal de estimação, os adultos o consideram (no máximo), como uma grande tristeza (e reversível à curto prazo). Dizer para uma criança: “compraremos outro animal de estimação” é passar por cima dos sentimentos dela e certamente (e inconscientemente), isso jamais será perdoado, além de criar apatia (também de maneira inconsciente), contra a pessoa que lhe fez tal promessa.

Quando isso acontece, a mente (por seu inconsciente Id) guarda e grava esses momentos, para mais tarde poder explicar ao corpo que o abriga, o que de fato lhe ocorreu (que pode estar lhe causando enorme desconforto psicoemocional). Quando o corpo (consciente) é tomado pelas lembranças do passado (sem compreender sua origem e procedência, por estar no obscuro inconsciente), as circunstâncias de sua condição psicoemocional o obriga à uma escolha cruel.  Como numa balança,  onde cada lado pesa, de um lado seu consciente e do outro suas lembranças.  Sua capacidade cognitiva diante da dor é quem determinará o lado da balança que prevalecerá, norteando aritmeticamente sua vida, à partir de então.  

Esse é o dilema do psicopata, quando considera sua vida envolvida e mergulhada numa condição da qual não consegue mais lutar, passando à submeter-se à escravidão inconsciente de suas lembranças dolorosas, como se fora viver o próprio filme, como o próprio protagonista.  Uma vida paralela porém involuntária, que viverá como se fosse a própria realidade.  Uma condição que jamais o fará desejar se tratar, pois que, para ele, não há o que tratar.

A única forma de tratamento consiste na internação e isolamento compulsório, tirando-o do ambiente (que é a sociedade) que alimenta seu passado e suas terríveis experiências.   A sociedade, direta e indiretamente, mantém suas lembranças, como um vulcão ativo sempre prestes à explodir.   É preciso primeiro, eliminar a provocação através do isolamento, dar um tempo para que se esfrie as reações provocadas pelas lembranças e somente então o terapeuta poderá começar à trabalhar.

Todo se esse processo poderá ser bem extenso, à depender das resistências que o inconsciente fará sobre o corpo e contra o tratamento (o que de certo modo é previsível).  A internação compulsória não é apenas necessária, mas uma condição,  pois sem a qual, seria como consertar uma mangueira furada sem fechar o registro de água.

Uma outra questão relevante está na estrutura médica e hospitalar, para tratar pacientes com histórico psicopata.  Não creio que exista esta estrutura em países subdesenvolvidos e, infelizmente o Brasil caminha para esse “Status” (se já não está), graças aos esforços de nossos ilustres governantes, que tanto se esmeram em desviar (sabe-se lá pra onde) os recursos que deveriam ser destinados à saúde pública, de forma geral.

Sim.  Acredito (como defendo) que a psicopatia tem cura, desde que, tratada à altura que a demanda exige, com respectiva atenção, respeito, profissionalismo médico e estrutura compatível.  Entende-se como estrutura compatível, onde as condições de hospedagem (enquanto em tratamento), possa proporcionar-lhe ambiente harmonioso, sem qualquer atitude preconceituosa e discriminatória, em razão da “fama” psicopata que carrega o paciente, por parte de funcionários, corpo de enfermagem ou mesmo por qualquer dos médicos, psiquiatras ou de qualquer outra especialidade.  Se assim não for, o paciente encontrará na sua internação, ambiente propício para sustentar sua psicopatologia, podendo (e muito), retardar consideravelmente seus progressos terapêuticos.

Devo citar, como exemplo, as condições existentes em Instituições correcionais, que abriga menores infratores.  As condições em que são submetidos e tratados, acabam por alimentar, os já comprometidos conceitos negativos, que pesam sobre uma sociedade injusta e preconceituosa e, à medida que crescem e tem de deixar essas Instituições públicas (em razão de terem atingido menor idade penal), vão para as ruas, para voltar à sobreviverem (não com violência), mas de qualquer outra forma, para continuar a viver e alimentar-se.  A violência, em cada um deles, é proporcional à experiência que já tiveram e do quanto já foram menosprezados e maltratados, tanto pelos funcionários dessas instituições (que já é de conhecimento público), quanto de uma sociedade (incluindo o Estado) que mais os despreza do que ajuda de alguma forma.

O que separa um doente de sua patologia é a qualidade do tratamento que recebe (quando recebe).



Professor Amadeu Epifânio

Pesquisador/Psicanalista