LEVAR EM CONTA O SENTIMENTO DE PERDA E ABANDONO.
Num primeiro momento, quero que
saibam que não é fácil falar sobre isso pois, faz parecer que estou “desestimulando”
o gesto de adoção. Nem de longe isso
procede porque, não posso desestimular uma atitude tão nobre. Por outro lado, vê-se pessoas tão ansiosas em
querer adotar, que dexa passar batido, problemas que poderão (ou não) surgir
depois de certo tempo. E não estou
falando de transtornos.
É bastante previsível que metade das
pessoas que conseguem adotar, com o tempo se queixam que o mesmo começa à
manifestar traços de rebeldia e desobediência, quando não, de rejeição pelos
pais adotivos. Isso não é nenhuma
novidade, basta colocar-se no lugar deles.
Se imaginar uma criança com a idade dela (ou dele), ter perdido de vez
os pais, falecidos ou não e, se não, são duas dores pra carregar, da perda e do
abandono. Problemas comportamentais não são privilégios só de crianças adotadas. Podemos causar os mesmos problemas em nossos filhos próprios.
Como podemos esperar que de repente,
de uma outra pra outra, eles comecem à ter que confiar em pessoas estranhas
(ainda que estas o estão querendo adotá-lo) ? São duas coisas diferentes, não podemos misturar. Primeiro é preciso mostrar que ele é bem
vindo ao novo lar mas, de forma alguma se deve “forçar a barra”. A aceitação e interação deve ocorrer de forma
natural (o que pode demandar certo tempo).
Lembram das fases de luto, que todos que perderam um ente, costumam
passar. Pois bem, esta criança pode não
ter passado ainda, por não entender direito o significado de perda, por morte
ou por abandono (um mais doloroso que o outro), tendo que lidar com os dois.
As fases do luto são:
Negação-Raiva-Barganha-Tristeza (pela saudade e não por depressão) e
finalmente, aceitação. Não podemos
confundir tristeza com depressão. Mesmo
uma tristeza profunda não é estado depressivo.
Parece que as pessoas usam o termo depressão como uma forma de escudo,
pra que a sua dor seja respeitada, até mesmo (ou principalmente) por aqueles
que não tinham empatia pelo falecido. A
dor de uma perda é forte, com certeza entendo sua dimensão. Até hoje, quase 50 anos depois, sinto uma falta
enorme do meu Pai, como tivesse partido à poucos dias.
Precisamos respeitar e perceber os
momentos da criança adotada, todos os momentos pelo qual passou, até que fosse
posta para adoção, ainda estão latentes em sua memória e somente com o tempo,
poderemos (não tirá-los, porque é impossível) mas, “sufocá-los” com o
acolhimento dos pais adotivos. Ela
precisa de tempo para entender e processar o que acontece em volta. Não é para tratá-la como estranha, por ela se
achar desta forma (já basta ela se sentir assim), mas é inevitável que o
passado possa (ou não) vir visitar algumas vezes.
Não vou me estender, só vim reforçar a
palavra Percepção.
"O que hoje é um Paradoxo para nós, será uma verdade demonstrada para a
posteridade". (Denis Diderot)
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista Autodidata.
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