PORQUE SOFRO
EFEITOS COLATERAIS ?
A indústria farmacêutica parece
produzir "remédio" pra tudo que precisamos, o que falta muitas vezes
é saber exatamente o quê e para quê precisamos de remédio. Todo problema orgânico tem o fator gerador e
o conseqüente, sendo este a dor. A dor é
muitas vezes um alarme, que avisa que algo em nós não está funcionando à
contento. Isto também ocorre com quem
tem consigo um transtorno. Três coisas tornam-se essenciais para quem precisa
de médico, a primeira coisa é conhecer-se à si próprio, conhecer seus padrões
de normalidade, pra que possa identificar de pronto uma anomalia qualquer em si
mesmo. A segunda coisa é tentar
descrever, da melhor forma que puder, o que tem e o que está sentindo e a
terceira é monitorar de perto a ação do remédio que está tomando.
É preciso que uma pessoa com transtorno
se estude bem, para que não fique tão vulnerável, passivo e dependente demais,
de medicamentos e de psiquiatras (não que não deva), mas são raros os
psiquiatras que realmente estuda e escuta o paciente, antes de prescrever a
medicação. Por outro lado, uma grande maioria de pessoas que sofrem de algum
transtorno (e aqui eu posso generalizar), não sabem descrever corretamente seus
sintomas, reações, freqüência com que acontece sintomas e crises, reações de
medicamentos que já esteja tomando, etc.
Faça seu próprio prontuário, saiba para
quê exatamente precisa de uma medicação e por quanto tempo (toda medicação
controlada tem um ciclo de efeito, com tempo pra começar, durar e acabar).
Muitas vezes desejamos fazer uma tarefa (como estudar), justo quando acaba o efeito do remédio, entre uma dose ou outra (se esse intervalo fica muito
distanciado, favorecendo a falta de efeito no corpo) ou se a medicação não está
adequada à sua realidade.
Se não está se sentindo bem com a
medicação, volta no médico, mas saiba descrever exatamente o que sente e antes de retornar à consulta, por duas ou
três semanas, faça um histórico do seu desenvolvimento e história do seu problema,
tipo, quando começou, com que freqüência acontecem as crises ou sintomas, em
que períodos do dia mais precisa de uma medicação e para quê, se para concentrar-se nos estudos, aliviar stress e
ansiedade, combater insônia, etc.
Quanto mais informações puder passar ao
médico, por ocasião da consulta, menores as chances de ouvir aquela frase célebre:
"Toma isso e vamos ver no que vai dar". Psiquiatras tem obrigação e dever de ouvir e
explorar o paciente, fazendo perguntas para ajudá-lo tanto no diagnostico preciso
quanto na medicação correta (não apenas para o transtorno diagnosticado, mas
para a realidade do paciente). Parar de ter pressa em enquadrar o paciente em
uma categoria do CID 10 e tratá-lo como ser humano e não objeto de pesquisa ou
cobaia de medicação nova. Se necessário, busque uma segunda opinião ou
terceira, confirme se a medicação e posologia estão adequados. Abaixo um pequeno parágrafo do livro que
estou lendo, que retrata bem essa questão de elaboração de diagnostico:
"O diagnostico psicopatológico
repousa sobre a totalidade dos dados clínicos, momentâneos (exames psíquicos) e
evolutivos (anamnese, história dos sintomas e evolução do transtorno). É essa totalidade clínica que, detectada,
avaliada e interpretada com conhecimento
(teórico e científico) e habilidade (clínico e intuitiva), conduz ao
diagnóstico psicopatológico". (Extraído do Livro: Psicopatologia e Semiologia
dos Transtornos Mentais - 2ª Edição - Paulo Dalgarrarondo-Ed. artmed).
Como vemos, estabelecer um diagnostico
não é tarefa simples quanto parece, além de exigir muita perícia, por parte do
profissional médico psiquiatra. A
primeira providência é solicitar ao paciente que descreva, num intervalo de
pelo menos duas semanas (ou mais), o desenrolar dos sintomas e reações que
sente ao longo do dia e da semana, sua periodicidade, freqüência, intensidade,
histórico familiar (não que implique ter o mesmo transtorno, mas para poder avaliar
se alguma herança genética possa estar contribuindo para o agravamento do
quadro). Existem problemas orgânicos,
cujo sintomas podem se confundir com sintomas de depressão por exemplo, podendo
ser considerado ou diagnosticado como tal.
É imperativo a colaboração direta do
paciente junto ao médico, para que desta união possa resultar numa melhor
qualidade de vida para o paciente. É
grande o número de pessoas com transtorno, infelizes com seu tratamento, por
não ter ainda encontrado seu equilíbrio e bem estar. Equilíbrio quanto à poder conviver com seu
transtorno, como dois bons estranhos.
Equilíbrio quanto à ter uma medicação que corresponda à contento.
Efeitos colaterais de medicamentos
podem significar várias coisas, entre elas o desconhecimento de informações
sobre o uso do remédio que está tomando ou, esperar que faça efeito pra ontem
(o que até se justifica, dado o sofrimento que se carrega). Pode ser remédio certo pro transtorno errado
(diagnosticado errado), seja por imprudência médica, seja por informações
erradas fornecidas pelo paciente (o que requer maior perícia do médico quanto à
explorar a realidade do paciente, de forma mais profunda. Na possível hipótese de se estar tomando
remédio errado ou que não esteja fazendo o efeito esperado, pode-se requerer ao
médico, uma reavaliação de diagnóstico, para que (se for ocaso) mudar a
medicação, com base em novos dados. Entre uma consulta e outra, um
monitoramento mais aprofundado sobre os efeitos da medicação, se está
correspondendo ou causando efeito colateral e sob que circunstâncias.
Existe neste mesmo blog, diversos
artigos sobre vários transtornos, que explicam a forma de como eles se constituíram
e o como o próprio portador pode se ajudar, independente do tratamento que
estiver seguindo. Basta utilizar a caixa
de busca ao final da página do blog e digitar lá o nome do seu transtorno ou de
outros temas que preferir, que o blog abrirá uma lista de artigos relacionados
ao tema. Abaixo três artigos para ajudá-los
à entender e lidar com seu transtorno.
http://deondeparei.blogspot.com.br/2014/03/transtornos-psiquiatricos-e-problemas.html
http://deondeparei.blogspot.com.br/2015/11/sempre-aconselham-fazer-o-que-gostamos.html
http://deondeparei.blogspot.com.br/2015/10/desmistificando-transtornos.html
Não adianta ficar esperando que a
solução caia do céu. É preciso
participar e colaborar para que encontre logo seu bem estar e uma melhor
qualidade de vida. Curar-se não
significa (num primeiro momento) livrar-se do transtorno, mas encontrar uma
forma de convivência à dois (até que fique curado). Seu transtorno é seu "inquilino",
mas enquanto não puder "despejá-lo", melhor então que saiba tudo
sobre ele, pra que parem de esbarrar pelos corredores e que cada um encontre e
ocupe seu próprio espaço.
ProfAmadeu Epifanio
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