Uma batalha árdua e
inconsciente.
Um dos momentos mais difíceis para os
nossos inconscientes, é quando precisa compensar um desparazer (na sua
respecriva intensidade), com alguma forma de prazer. Dependendo à qual dos dois
inconscientes caberá este ofício, o prazer pode ser algo muito variável, de
natureza positiva ou negativa (quando não destrutivo). Mesmo os desprazeres também são variados e,
na maioria das vezes, intenso, obrigando os inconscientes à ”se virar” na mesma
medida, podendo vir à causar maiores danos ao corpo, tanto físico, quanto
emocional, quanto psicológico.
Sentimos desprazer, com muita mais frequência
hoje, que em poucos anos atrás, obrigando-nos à gerar prazer, cada vez de forma
mais apelativa, para atrair nossa atenção e causar o efeito desejado, que é
conter o desprazer, tanto repentino quanto persistente. O desprazer que sentimos, pode vir tanto do
ambiente quanto de nossas experiências emocionais, guardadas desde a gestação
até os dias atuais. Nada fica no esquecimento.
O corpo é administrado por dois
inconscientes (Ego e Id). O primeiro é racional, faz uso da formação que
recebemos inicialmente dos pais, que irá gerar prazer oportuno. O segundo, o
Id, terá a mesma tarefa, mas irá se valer do que tiver à mão, para cumprir o
mesmo propósito porém, sem se preocupar com o dia seguinte, pois este não mede
consequências, nem pressente perigo, para nos proporcionar o prazer, na intensidade
exigida. Na Psicanálise, o Id é um
personagem que só pede pra fazer algo, enquanto ao Ego, compete o ofício de
recusar ou ceder. Mas o Id também tem a
função de ajudar o corpo em seus conflitos e demandas, tendo a intensidade como
termômetro do tipo de “auxílio” que usará como prazer, sem se importar com
consequências futuras.
Quando pequenos (da gestação aos primeiros
meses), dispomos de pouca (ou nenhuma) formação. Automaticamente dispensamos o inconsciente
Ego de trabalhar, já que não dispomos de recursos pra isso. Resta-nos o “co-piloto” ID, para cuidar do
corpo, da forma eu puder. Em suas ações, pode fazer o pequeno corpo chorar,
gritar, quando algo o incomoda ou o desejo de ficar perto da mãe ou
quando está com fome (seus maiores prazeres nesta idade rsr).
Ao crescermos, a formação, orientação,
ensinamentos, cresce, tirando o Ego das férias para trabalhar e alternando com
o Id, o compromisso de promover prazer, sempre que algo nos tira do sério, nos
faz achar injusto ou nos deixa com muita raiva (limite máximo de sentimento de
uma criança de 5 anos). Se não
estimularmos as crianças ao raciocínio e à reflexão, diante dos conflitos que
se depara, o desprazer será contínuo e o tipo de prazer pra conter, será cada
vez mais escasso e mais apelativo, conforme a intensidade do seu desconforto. O melhor prazer para quem sofre Bulliyng, é
um doce consolo ou diálogo dos pais (quando percebem que algo está errado com o
filho).
Nossa vida gira sempre em torno dessa
alternância entre desprazer e prazer. Desprazer, nem sempre são fatos negativos. Se acumularmos bons momentos e dispusermos de
capacidade de reflexão, menos intensos serão nossos desprazeres e menos
apelativos deverão ser os prazeres correspondentes. Chamamos de apelativos, o hábito de fumar, de
beber, brigar, usar cocaína, fazer rachas, praticar Bulliyng, praticar sexo
promíscuo, depredação, violência, agressividade, etc.
Ter bons momentos, amigos, família
harmoniosa, alegrias, gargalhadas, afetividade, boa convivência, tudo isso
pode ser de grande auxílio, em momentos de tristeza, raiva ou frustração, pois
eles nos serão lembrados como prazer, à fim de conter a tristeza. A crença em
Deus também é auxiliadora, desde que mantivermos o pensamento nEle. Cada dia
mais, o descontrole emocional do ser humano só faz aumentar a violência e a
desarmonia é uma prova de que está havendo excesso de desprazer e escassez de
subsídios, para que possa ser gerador um prazer que esteja à altura do grau de
intensidade momentânea.
O prazer pode se refletir em respostas,
ações e reações, supostamente sempre positivas (à depender do ambiente e
vivência da pessoa). Um Psicopata
provavelmente pode estar com ambos os inconscientes “contaminados” com peso e
conceitos negativos, à respeito de tudo que lhe ronda, à começar pela
família. Por isso quase nunca existirá
algum remorço ou arrependimento, porque não aprendeu à ter valores morais e
ainda os despreza.
Jovens rebeldes, drogados,
alcoolizados, agressivos, violentos, membros de facções criminosas, menor
infrator, sempre os julgamos como o lado negro da sociedade, os que não tem
mais volta, os não podem mais se ressocializar (não porque não há justiça nesse
país), mas porque a sociedade já os setenciou e os condenou e não esperam mais
que a justiça os prenda e os mantenha distante de nós. Não há diferença entre eles e o filho rebelde
que pega um carro, faz racha, atropela alguém e não socorre, fugindo do local,
pelo mesmo medo que fez muitos outros jovens entrarem na vida errada que estão
hoje. Culpa deles ? Não ! Culpa dos pais, da família, que não os
ensinou, não os educou, apenas criou e alimentou, como fazemos com um animal de
estimação. E olha que estes também precisam ser educados, para não agredir à
outros ou fazer as necessidades em lugar errado.
Um
desprazer pode ser a falta que sentimos, das pessoas que amamos, enquanto
estas, não conseguem manifestar o prazer de estarem conosco.
O desprazer é o “prato” mais pesado
dessa balança, não tendo muito para equilibrar esse peso. Como resultado, temos um mundo cada vez mais
hostil, com pessoas sentindo prazer de matar, enquanto outros acumulam o
desprazer da dor de sepultar seus entes, sem prazer à altura, para
confortá-los. Quando não se pensa no que
faz, qualquer desprazer vira prazer e o que ter para reverter essa situação
? O que temos para nos sentirmos bem, em
situações que a dor parece ser a maior de todas ? Se não tiver resposta, cria, ou acabará do mesmo
jeito.
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador / Psicanalista Auto-didata.
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