QUEM SÃO OS MENORES DE RUA ?
À
princípio, são todos aqueles que não gozam
da mesma qualidade de vida e de bem estar, que vivem os nossos filhos,
onde estes, gozam de um lar, um bom prato de comida e de uma boa cama pra
dormir. São jovens que muitas vezes não
teen uma dupla de pais que os oriente, que os conforte, que os dê carinho,
afeto, compreensão e acolhimento, mesmo que presentes na vida deles, mas
ausente demais para lhe oferecer tudo isso, quando não fazem o contrário.
São jovens e até mesmo adolescentes, que
vivem, na prática, o exemplo daqueles que não tiveram uma formação religiosa, (que na maioria das
vezes sustenta e norteia a psicológica), afim de melhor absorverem as suas
adversidades, cujas as quais, ou decorrem de sua atual situação ou, o levaram
para o mesmo, frente à uma possível falta de perspectiva ou de opções.
São jovens, hoje, que apenas olhar para
eles, já desperta em nós um receio, quanto das reações que porventura podem
ocorrer, se nos aproximarmos demais, principalmente se estiverem em grupos, ou
talvez segurando na mão, um pequeno saco plástico, contendo em seu interior,
alguma substância tóxica, as quais estejam inalando, seja para não sentirem
fome (ou o desejo “ilusório” de aparente satisfação) ou para simplesmente
esquecerem a dura e real situação em que vivem, ainda que por alguns instantes.
Não faz diferença pra eles, as
especulações que fazemos, sobre suas formas de vida, bem como do preconceito
natural e comum, advindo da sociedade como um todo. Isso já é o mínimo que eles esperam de nós,
os incluídos. Novidade, para eles,
seria uma ação em conjunto, mas de solidariedade, de aproximação e de
confiança. Quantas vezes um gesto
acolhedor já não mexeu com o nosso ego ou aqueceu o nosso coração ?
Quando o assunto é solidariedade, estamos
quase sempre, presos ao conceito de uma ajuda somente material, mas quase nunca
a de natureza humana e gentil, ainda que seja para “ – ...um desses meus
menores irmãos...” (Mt 25, 40). Sabemos
que a diferença entre estes e os nossos filhos é grande e, que ainda sim, são
todos, imagem e semelhança de Deus, assim como nós pais e os “maiores”
infratores, que apenas cresceram junto com os demais, na falta de perspectiva
quanto ao nosso socorro à eles.
Ficamos muitas vezes, em igual
circunstância, quando dependemos de outras pessoas para nos ajudar a resolver
um problema importante, porém quando nos falta, resolvemos a situação sozinhos,
muitas vezes até, apelando para recursos não muito éticos (...) apenas para
sair daquela situação. A diferença
entre nós e os “menores” é que, para eles, essa situação torna-se uma rotina
diária, principalmente se tiverem que esperar de nós, por alguma atitude
solidária. Empurrar o problema para as
autoridades, parece ser a única atitude ao nosso alcance.
Onde eles estão ?
Estão onde possamos vê-los e até
sentimos sua falta, quando não estão
entre nós. Sua presença, por si só,
parece nos lembrar ou cobrar, sempre, alguma coisa. Em sua
condição, há muitas perguntas sem respostas, como a que envolve a opção, de
viver nas ruas, à viver em família ou, até mesmo em albergues.
É certo que alguns têm um
lugar certo pra morar (ou se esconder do frio ou da perseguição), porém outros,
não têm muita opção e estão, hora aqui, hora lá, colocando-se em condição de
risco, diante dos “maiores” e dos muitos problemas que eles já enfrentam. Enquanto não se resolve a “questão” pelo
âmbito familiar, poderia proporcionar-lhes cursos, para qualificá-los como
“guias turísticos mirins”, onde, ao invés de assaltar os turistas, os
acompanharia aos pontos turísticos, orientando e informando-os sobre os mesmos,
quanto à sua história e curiosidades.
Dessa forma, ganhariam a sua
dignidade e o direito à cidadania, fazendo parte do mundo que nos pertence,
onde seria “excluído” apenas, da parte do mundo que os “homens” rejeitam e
desprezam. Com uniformes novos, falando inglês e ganhando gorjetas em dóllar,
ganhariam motivação para não voltar à vida anterior, passando à todos uma nova
imagem, bem diferente daquelas que causam receios. Os meninos só precisam de uma oportunidade e
eles merecem, porque, agüentar desprezo e preconceito... Haja Deus !
Por que se tornam Infratores ?
Uma série de circunstâncias é
responsável pela mudança de comportamento. Até mesmo um cão da raça mais dócil, pode
reagir, se for agredido ou mesmo, ameaçado.
Paciência, pra todo mundo, têm limites.
O fator psicológico é
predominante em cada um desses “meninos” e cada um, embora nas mesmas
condições, podem expressar reações diferentes, diante de um mesmo perigo ou de
uma sensação de fome ou mesmo consumindo uma droga ou cheirando cola. A
maioria traz consigo, experiências não muito agradáveis de se lembrar ou
conviver e, na falta iminente de cultura, formação religiosa e de paciência,
poucos são, os que conseguem absorver toda essa adrenalina de emoções, quando a
maioria “descontam” a raiva nos transeuntes, em furtos e roubos, seja por
desejo de desabafo ou para saciar o estômago.
Nenhuma ação negativa ou
mesmo violenta, que venha por parte dos “menores” é justificável, porém não se
justifica também, deixá-los à parte da sociedade, como “vira-latas”, comendo de
sobras e dormindo ao relento. É sabido que muitos desprezam abrigos que são
oferecidos pela prefeitura, mas, se alguns deles já teriam passado por lá e
rejeitaram o convite, é porque talvez, já
passaram por algum incidente que lhes provocasse a opção de não retornar. Talvez seja o caso de averiguar as condições
de abrigo, nesses lugares. Ninguém
recusa um lugar pra dormir ou um prato quente de comida, se não tiver um bom
motivo.
O quê eles querem ?
Serem percebidos e não
ignorados. Serem acolhidos, ao invés de
desprezados. Estão em busca de ajuda,
para terem uma vida mais digna, mais social, mais humana. Não
são leões em busca de comida. A fome é
decorrente da luta e do cansaço, na busca por um mundo mais solidário e menos
egoísta. A violência é decorrente de uma
constante frustração, nessa procura.
Há desejos por parte
deles, de toda sorte.
Alguns
querem ser ouvidos, outros, amparados, outros ainda, acolhidos em novos lares,
ainda que com estranhos, para que um dia os possa chamar de pai e mãe. Os que rejeitam a ajuda, são os que mais
precisam de ajuda, pois trata-se daqueles que já não acreditam em mais nada e
suspeitam até de outros que se aproximam para oferecer-lhes alguma coisa, como
roupa ou comida.
Infelizmente, estes,
fazem parte do grupo que aposta na violência para sobreviverem, pois, são
garotos que a incredulidade os fez perder a pouca referência que tinham,
inclusive no que diz respeito à vida, quando à tiram, para obter o que
pretendem. É preciso resgatar, não
somente os garotos, mas a sua dignidade e o respeito, com alguma ocupação que
os tornem cidadãos, como nós, para que referências cruciais sejam mantidas e
preservadas, pelo bem deles e o nosso, por consequência.
Como pedem o que querem ?
Da forma como se
apresentam. Eles e as
circunstâncias. Não se pode julgar apenas um dos lados. O certo seria ambos, relevarem as
características do outro, pois isso, de certo, já facilitaria a comunicação
entre nós: Os incluídos e os
excluídos. Mas, esperar discernimento de uma criança ou
de um jovem e até mesmo de adolescentes, já descrente de muitas coisas, talvez
seja esperar demais. Fica mais fácil, e
isso é óbvio, que a lucidez e o bom senso, parta enfim, de nós mesmos, quanto a
relevar a forma de vida e o grau de dificuldade em que vivem, antes de o
julgarmos ou sentenciá-los pela falta de maturidade, civilidade ou de educação,
quando praticam pequenos, médios ou grandes delitos.
Devemos dar graças à Deus, por
alguns ainda resistirem à marginalidade ou mesmo às drogas, quando ainda tentam
fazer acrobacias nos faróis, não somente para ganhar o “sustento” mas,
principalmente para nos mostrar que ainda existe “um” que está resistindo e
que, se algo não for feito logo, a próxima vês que for abordado num farol, não
será para mostrar acrobacias, mas provavelmente algum tipo de arma, para
intimá-lo à passar algum dinheiro, coisas de valor ou, dependendo do
temperamento dele, a sua própria vida.
Nós, os incluídos, só esperamos
dos “menores”, alguma forma de violência, enquanto eles, de nós, só preconceito
e discriminação. Quem vai “largar” a
primeira pedra ?
Quais as perspectivas ?
Nenhuma. Pelo menos, num primeiro instante, é o
pensamento que me vêm. Nenhum dos lados “baixa a guarda” e os
governantes não conseguem se quer apartar essa briga. A única chance para os menores de rua, é
dar-lhes cidadania, aqui, em seu próprio País, pois o que mais parece é que se
tornaram clandestinos sem pátria, já que ninguém os assumiu, até hoje.
A idéia dos “Guias turísticos
mirins”, não é, de longe, uma má idéia, por trata-se de uma solução eficaz,
ainda que paliativamente sazonal. Uma
idéia que certamente seria imitada em vários outros Estados, uma vês que esta
problemática não é exclusividade só do Rio de Janeiro.
“Meninos de rua”, “menores
infratores”; não importa o nome que se dê.
O importante é que aqui começa o “rastilho de pólvora” e vai culminar,
paralelamente, lá na frente, com as demais formas de violência, vivida nos
grandes centros e promovida, desde, por traficantes até motoristas neuróticos,
que matam por uma simples disputa de vaga.
Falar em perspectivas para os
menores, é como pedir um alcoólico para nunca mais beber. Eles
querem ver mais ação, porém não com violência. Querem acreditar em promessas de
melhora, mas não de políticos demagogos.
Querem alguém que os defenda e proteja, das drogas e más
influências. Não é muito, perto de uma
problemática, que certamente se tornará mais grave e irreversível, tanto quanto
já é, o aquecimento global. Duvida
?
Enquanto isso...
Continuaremos a chutar “essas”
pedras do caminho, sem almenos nos importar de onde vieram ou para onde vão,
com o nosso chute (desprezo). Enquanto
isso, governantes, políticos, ong’s, etc., vão fazendo de conta que “eles” não
existem. Que são frutos da nossa imaginação,
assim como o menor emancipado “champinha”, cuja as atrocidades já é do
conhecimento de todos, pela mídia.
Enquanto nada se faz, esses
“meninos” vão sofrendo a metamorfose e virando meninos maus, seja por conta
própria (pela escassez da paciência, pela espera longa e inútil do socorro),
seja se filiando às quadrilhas de traficantes, em busca de auto-afirmação e de
uma identidade para exibir, carregada nos ombros e outra na cintura. Ainda sim, não se pode culpá-los pela
escolha, apenas torcer para que um dia, eles não venha visitá-lo em sua casa,
quando estiver servindo um churrasco com
a família ou com os amigos, talvez comemorando alguma data especial.
Enquanto isso, “eles”
continuam ganhando as manchetes dos jornais, sejam como ladrões de turistas,
sejam como vítimas de chacinas; mas
nunca são mencionados como heróis “vivos”, de uma sociedade injusta e
preconceituosa, resistindo de forma brava e heróica, dia após dia, sem se
drogar ou se prostituir. Só virando bandido que a mídia e a sociedade
repara neles.
Uma nação, que tem seus filhos
largados à própria sorte, nem Jesus Cristo perdoa !