PERCEPÇÕES DE SOMBRAS NA PAREDE.
Primeiramente vamos
descrever quais sintomas caracterizam o transtorno da esquizofrenia.
“O Transtorno de espectro
da esquizofrenia compreende a esquizofrenia propriamente dita, assim como
outros transtornos psicóticos e o transtorno esquizotípico de personalidade. São definidos pela presença de sintomas como
delírios, alucinações, transtorno do pensamento, conduta motora desorganizada,
bem como pelos sintomas negativos.” (Clínica Psiquiátrica de bolso – Ed. Manole
– Orestes Vicente Forlenza e outros)
Não pretendo fazer
desacreditar tal descrição mas, estamos atribuindo valor demais, ao que não se
conhece, com demasiada profundidade. Dizia
o personagem “Doutor”, no filme “De
volta para o futuro 3”, ao seu amigo Marth MacFlay: “Você não está pensando em
quatro dimensões(...)”.
Significa que está se julgando apenas, o que se está vendo. Em outra
referência temos a história “O Mito da Caverna”, de Platão.
“No texto, Platão fala para Glauco imaginar a
existência de uma caverna onde prisioneiros vivessem desde a infância. Com as
mãos amarradas em uma parede. Eles podem avistar somente as sombras que são
projetadas na parede situada à frente. Aquela parede da caverna, aquelas sombras,
reproduziam o mundo restrito dos prisioneiros.”
Ou seja, estamos
idealizando uma realidade feita de ilusões e alucinações, tendo como
consequência, Transtornos de pensamento e conduta motora desorganizada. Pensemos por um minuto, em qual circunstância
(em qual idade) viveríamos tais sintomas, sem que pudéssemos chamá-los de
doença mas, de comportamento normal visto por uma pessoa que ainda não dispõe do
controle do próprio corpo, ou seja, praticamente sem nenhuma coordenação motora,
exceto se não, pelo o que esta mesma pessoa (o feto) acredita ter.
Quem, na verdade, está
dentro desta caverna (de Platão), vendo sombras e fazendo especulações sobre
elas ? Quando vemos uma pessoa com
esquizofrenia e observamos seus hábitos e movimentos, imediatamente imaginamos
que ela tenha algum tipo de problema, o qual não lhe permite ter seu auto
controle. Agora pensemos (como no filme “De
Volta para o Futuro III”, não estamos pensando em quatro dimensões. Ou seja, não passa pela nossa cabeça que,
aqueles são movimentos de uma pessoa sim mas, em uma idade, cujo o controle dos
movimentos ainda não tem e, ilusões e conjecturas que lhe sobram, em razão do
pequeno mundo em que vive (útero materno) já formado.
Naturalmente não traríamos
para a fase adulta, alterações de pensamento e sensações, que por ventura o
pequeno ser tenha experimentado em decorrência de algum tipo de evento. Evento cuja intensidade tenha ultrapassado
sua pequenina capacidade de tolerância.
Entendimento também não se aplica. Imaginemos que sua mãe (gestante), experimente
situações tensas, como discussões e brigas, com expressões de baixo calão e
ameaças diversas. Não é difícil supor
que o feto dentro dela, não esteja tendo as mesmas sensações e ouvindo tudo e
da forma que foi dita. A criança (física)
pode não entender as palavras e ofensas proferidas, muito menos compreendê-la
porém, seu inconsciente (nascido em conjunto com sua formação), pode. Já afirmei em outros artigos neste mesmo blog
que, os inconscientes EGO e ID, tem ambos, o propósito de proteger o corpo que
os abriga.
Toda experiência e tensão,
da discussão, vivenciada pela gestante é transferida ao feto e gravada em seu
reprimido (uma espécie de HD de computador, com uma quantidade inimaginável de
armazenamento). Teoricamente, essas
experiências traumáticas podem ser nocivas para o pequeno corpo e, passado um
tempo, até que o feto nasça e se desenvolva, até pelo menos à sua puberdade,
aqueles traumas tornam-se latentes, com o objetivo que o corpo tome
conhecimento e entenda, fazendo com que seja extinto.
Contudo, o que lhe é
lembrado é apenas a sensação vivenciada (em vez do relato em si). Então, vem à lembrança e consciência, vozes e
(supostas) alucinações (decorrentes do que o feto pode ter tentado imaginar, o
que estivesse acontecendo “lá fora”, para que o transtornasse tanto. Como não há referência para comparar, o céu é
o limite na imaginação de uma criança (de feto aos 3 anos de idade). A imaginação de uma criança, se compara as
conjecturas dos prisioneiros da caverna, em relação às sombras que eram criadas
pelo fogo, elevando ou minimizando o impacto das criações assustadoras, formuladas
pelas formações das sombras.
Temos vivido nossas vidas
de adulto, negligenciando a idade, infantilidade e ingenuidade dos pequenos (em
suas cavernas), que é o ambiente não compartilhado pelos adultos, isto é, sem o
desejo ou intenção destes, em buscar entender a visão de sua ingênua narrativa
dos fatos. Nesse contexto, criamos
simultaneamente, dois mundos distintos e duas gerações que se distanciam, que
mal conseguem se comunicar, embora sempre prevaleça o lado adulto, permitindo
que os pequenos “inflamem” ainda mais, seus conceitos negativos, de que estão
sozinhos em suas “cavernas” (seu próprio mundo). Um mundo em que eles não tem voz nem decide,
apenas acatam as decisões de gentes grandes e insensíveis. Isso favorece a criação de outros tipos de
transtorno.
A esquizofrenia é uma
combinação de conjecturas, dos que vivem fora da caverna, em relação aos que
vivem dentro, submetendo-os à circunstâncias (tratamento), que mal sabem porque
e para quê, estão se submetendo, tendo apenas que aceitar. Se os psiquiatras fizessem a abordagem
apropriada, talvez não fosse tão necessário, a prescrição de remédios tão fortes,
para diagnósticos tão severos, criados à partir de uma “sombra vista na parede”.
“Sem um diagnóstico
psicopatológico aprofundado, não se pode
nem compreender adequadamente o paciente e seu sofrimento, nem escolher o tipo
de estratégia terapêutica apropriado”. (Psicopatologia
e Semiologia dos Transtornos Mentais – 2ª Edição – Paulo Dalgalarrondo).
O mesmo princípio se
aplica aos demais transtornos existentes.
Ou seja, experimentam reações específicas, quando criança e, guardam
dentro de si, apenas por não compreendê-los.
Agora, mesmo quando adultos (ou jovens), ainda estão presos à aquelas
experiências, tentando explicar, na forma inocente de ver, os fatos que
partilharam e as sensações que tiveram.
Só porque são “sombras” grandes, não implica dizer que são de natureza
grave ou severa (exceto senão, na visão inocente de uma criança pequena). Não se trata de doença, apenas estamos sendo
lembrados “das sombras”, para que sejam extinto de nossas mentes.
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista Autodidata.
Nenhum comentário:
Postar um comentário