Projeto VIVA +

domingo, 7 de abril de 2013


QUEM SÃO OS MENORES DE RUA ?

À princípio, são todos aqueles que não gozam  da mesma qualidade de vida e de bem estar, que vivem os nossos filhos, onde estes, gozam de um lar, um bom prato de comida e de uma boa cama pra dormir.   São jovens que muitas vezes não teen uma dupla de pais que os oriente, que os conforte, que os dê carinho, afeto, compreensão e acolhimento, mesmo que presentes na vida deles, mas ausente demais para lhe oferecer tudo isso, quando não fazem o contrário.

                       São jovens e até mesmo adolescentes, que vivem, na prática, o exemplo daqueles que não tiveram  uma formação religiosa, (que na maioria das vezes sustenta e norteia a psicológica), afim de melhor absorverem as suas adversidades, cujas as quais, ou decorrem de sua atual situação ou, o levaram para o mesmo, frente à uma possível falta de perspectiva ou de opções.

                       São jovens, hoje, que apenas olhar para eles, já desperta em nós um receio, quanto das reações que porventura podem ocorrer, se nos aproximarmos demais, principalmente se estiverem em grupos, ou talvez segurando na mão, um pequeno saco plástico, contendo em seu interior, alguma substância tóxica, as quais estejam inalando, seja para não sentirem fome (ou o desejo “ilusório” de aparente satisfação) ou para simplesmente esquecerem a dura e real situação em que vivem, ainda que por alguns instantes.

                       Não faz diferença pra eles, as especulações que fazemos, sobre suas formas de vida, bem como do preconceito natural e comum, advindo da sociedade como um todo.   Isso já é o mínimo que eles esperam de nós, os incluídos.   Novidade, para eles, seria uma ação em conjunto, mas de solidariedade, de aproximação e de confiança.   Quantas vezes um gesto acolhedor já não mexeu com o nosso ego ou aqueceu o nosso coração ?

                      Quando o assunto é solidariedade, estamos quase sempre, presos ao conceito de uma ajuda somente material, mas quase nunca a de natureza humana e gentil, ainda que seja para “ – ...um desses meus menores irmãos...” (Mt 25, 40).    Sabemos que a diferença entre estes e os nossos filhos é grande e, que ainda sim, são todos, imagem e semelhança de Deus, assim como nós pais e os “maiores” infratores, que apenas cresceram junto com os demais, na falta de perspectiva quanto ao nosso socorro à eles.

                     Ficamos muitas vezes, em igual circunstância, quando dependemos de outras pessoas para nos ajudar a resolver um problema importante, porém quando nos falta, resolvemos a situação sozinhos, muitas vezes até, apelando para recursos não muito éticos (...) apenas para sair daquela situação.    A diferença entre nós e os “menores” é que, para eles, essa situação torna-se uma rotina diária, principalmente se tiverem que esperar de nós, por alguma atitude solidária.   Empurrar o problema para as autoridades, parece ser a única atitude ao nosso alcance.

Onde eles estão ?

                 Estão onde possamos vê-los e até sentimos sua  falta, quando não estão entre nós.   Sua presença, por si só, parece nos lembrar ou cobrar, sempre, alguma coisa.   Em sua condição, há muitas perguntas sem respostas, como a que envolve a opção, de viver nas ruas, à viver em família ou, até mesmo em albergues.   
                 É certo que alguns têm um lugar certo pra morar (ou se esconder do frio ou da perseguição), porém outros, não têm muita opção e estão, hora aqui, hora lá, colocando-se em condição de risco, diante dos “maiores” e dos muitos problemas que eles já enfrentam.  Enquanto não se resolve a “questão” pelo âmbito familiar, poderia proporcionar-lhes cursos, para qualificá-los como “guias turísticos mirins”, onde, ao invés de assaltar os turistas, os acompanharia aos pontos turísticos, orientando e informando-os sobre os mesmos, quanto à sua história e curiosidades.
                  Dessa forma, ganhariam a sua dignidade e o direito à cidadania, fazendo parte do mundo que nos pertence, onde seria “excluído” apenas, da parte do mundo que os “homens” rejeitam e desprezam. Com uniformes novos, falando inglês e ganhando gorjetas em dóllar, ganhariam motivação para não voltar à vida anterior, passando à todos uma nova imagem, bem diferente daquelas que causam receios.  Os meninos só precisam de uma oportunidade e eles merecem, porque, agüentar desprezo e preconceito... Haja Deus !

Por que se tornam Infratores ?

                  Uma série de circunstâncias é responsável pela mudança de comportamento.  Até mesmo um cão da raça mais dócil, pode reagir, se for agredido ou mesmo, ameaçado.  Paciência, pra todo mundo, têm limites.

                  O fator psicológico é predominante em cada um desses “meninos” e cada um, embora nas mesmas condições, podem expressar reações diferentes, diante de um mesmo perigo ou de uma sensação de fome ou mesmo consumindo uma droga ou cheirando cola.   A maioria traz consigo, experiências não muito agradáveis de se lembrar ou conviver e, na falta iminente de cultura, formação religiosa e de paciência, poucos são, os que conseguem absorver toda essa adrenalina de emoções, quando a maioria “descontam” a raiva nos transeuntes, em furtos e roubos, seja por desejo de desabafo ou para saciar o estômago.

                   Nenhuma ação negativa ou mesmo violenta, que venha por parte dos “menores” é justificável, porém não se justifica também, deixá-los à parte da sociedade, como “vira-latas”, comendo de sobras e dormindo ao relento. É sabido que muitos desprezam abrigos que são oferecidos pela prefeitura, mas, se alguns deles já teriam passado por lá e rejeitaram o convite, é porque talvez, já  passaram por algum incidente que lhes provocasse a opção de não retornar.   Talvez seja o caso de averiguar as condições de abrigo, nesses lugares.  Ninguém recusa um lugar pra dormir ou um prato quente de comida, se não tiver um bom motivo.

O quê eles querem ?

                     Serem percebidos e não ignorados.  Serem acolhidos, ao invés de desprezados.  Estão em busca de ajuda, para terem uma vida mais digna, mais social, mais humana.   Não são leões em busca de comida.  A fome é decorrente da luta e do cansaço, na busca por um mundo mais solidário e menos egoísta.  A violência é decorrente de uma constante frustração, nessa procura.

                     Há desejos por parte deles, de toda sorte.

Alguns querem ser ouvidos, outros, amparados, outros ainda, acolhidos em novos lares, ainda que com estranhos, para que um dia os possa chamar de pai e mãe.  Os que rejeitam a ajuda, são os que mais precisam de ajuda, pois trata-se daqueles que já não acreditam em mais nada e suspeitam até de outros que se aproximam para oferecer-lhes alguma coisa, como roupa ou comida.
   
                      Infelizmente, estes, fazem parte do grupo que aposta na violência para sobreviverem, pois, são garotos que a incredulidade os fez perder a pouca referência que tinham, inclusive no que diz respeito à vida, quando à tiram, para obter o que pretendem.   É preciso resgatar, não somente os garotos, mas a sua dignidade e o respeito, com alguma ocupação que os tornem cidadãos, como nós, para que referências cruciais sejam mantidas e preservadas, pelo bem deles e o nosso, por consequência. 
Como pedem o que querem ?

                 Da forma como se apresentam.   Eles e as circunstâncias.   Não se pode julgar apenas um dos lados.   O certo seria ambos, relevarem as características do outro, pois isso, de certo, já facilitaria a comunicação entre nós:  Os incluídos e os excluídos.   Mas, esperar discernimento de uma criança ou de um jovem e até mesmo de adolescentes, já descrente de muitas coisas, talvez seja esperar demais.  Fica mais fácil, e isso é óbvio, que a lucidez e o bom senso, parta enfim, de nós mesmos, quanto a relevar a forma de vida e o grau de dificuldade em que vivem, antes de o julgarmos ou sentenciá-los pela falta de maturidade, civilidade ou de educação, quando praticam pequenos, médios ou grandes delitos.

                 Devemos dar graças à Deus, por alguns ainda resistirem à marginalidade ou mesmo às drogas, quando ainda tentam fazer acrobacias nos faróis, não somente para ganhar o “sustento” mas, principalmente para nos mostrar que ainda existe “um” que está resistindo e que, se algo não for feito logo, a próxima vês que for abordado num farol, não será para mostrar acrobacias, mas provavelmente algum tipo de arma, para intimá-lo à passar algum dinheiro, coisas de valor ou, dependendo do temperamento dele, a sua própria vida.

                Nós, os incluídos, só esperamos dos “menores”, alguma forma de violência, enquanto eles, de nós, só preconceito e discriminação.    Quem vai “largar” a primeira pedra ?
Quais as perspectivas ?

              Nenhuma.  Pelo menos, num primeiro instante, é o pensamento que me vêm.   Nenhum dos lados “baixa a guarda” e os governantes não conseguem se quer apartar essa briga.    A única chance para os menores de rua, é dar-lhes cidadania, aqui, em seu próprio País, pois o que mais parece é que se tornaram clandestinos sem pátria, já que ninguém os assumiu, até hoje.

             A idéia dos “Guias turísticos mirins”, não é, de longe, uma má idéia, por trata-se de uma solução eficaz, ainda que paliativamente sazonal.   Uma idéia que certamente seria imitada em vários outros Estados, uma vês que esta problemática não é exclusividade só do Rio de Janeiro.
    
            “Meninos de rua”, “menores infratores”; não importa o nome que se dê.   O importante é que aqui começa o “rastilho de pólvora” e vai culminar, paralelamente, lá na frente, com as demais formas de violência, vivida nos grandes centros e promovida, desde, por traficantes até motoristas neuróticos, que matam por uma simples disputa de vaga.

            Falar em perspectivas para os menores, é como pedir um alcoólico para nunca mais beber.   Eles querem ver mais ação, porém não com violência. Querem acreditar em promessas de melhora, mas não de políticos demagogos.   Querem alguém que os defenda e proteja, das drogas e más influências.   Não é muito, perto de uma problemática, que certamente se tornará mais grave e irreversível, tanto quanto já é, o aquecimento global.    Duvida ?
                        
Enquanto isso...

                  Continuaremos a chutar “essas” pedras do caminho, sem almenos nos importar de onde vieram ou para onde vão, com o nosso chute (desprezo).   Enquanto isso, governantes, políticos, ong’s, etc., vão fazendo de conta que “eles” não existem.   Que são frutos da nossa imaginação, assim como o menor emancipado “champinha”, cuja as atrocidades já é do conhecimento de todos, pela mídia.

                 Enquanto nada se faz, esses “meninos” vão sofrendo a metamorfose e virando meninos maus, seja por conta própria (pela escassez da paciência, pela espera longa e inútil do socorro), seja se filiando às quadrilhas de traficantes, em busca de auto-afirmação e de uma identidade para exibir, carregada nos ombros e  outra na cintura.   Ainda sim, não se pode culpá-los pela escolha, apenas torcer para que um dia, eles não venha visitá-lo em sua casa, quando estiver  servindo um churrasco com a família ou com os amigos, talvez comemorando alguma data especial.

                  Enquanto isso, “eles” continuam ganhando as manchetes dos jornais, sejam como ladrões de turistas, sejam como vítimas de chacinas;  mas nunca são mencionados como heróis “vivos”, de uma sociedade injusta e preconceituosa, resistindo de forma brava e heróica, dia após dia, sem se drogar ou se prostituir.   Só virando bandido que a mídia e a sociedade repara neles.
    
                Uma nação, que tem seus filhos largados à própria sorte, nem Jesus Cristo perdoa !

                                                       Amadeu Epifânio



Somos pelo o que somos.

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