QUANDO AFETA A MENTE, A COORDENAÇÃO
E A CRIANÇA NÃO SABE O QUE ESTÁ SE PASSANDO.
ELAS PRECISAM SABER.
Muitos dos problemas, pelos quais passamos, ficamos atônitos por
não compreender sua origem, bem como a razão do porque estar acontecendo. Se o corpo não consegue “montar guarda” em si
mesmo, não conseguirá combater as adversidades, quando surgirem, não importando
a idade que se tenha. Se pudermos
descobrir a origem e essência do problema, ainda que manifestado de forma
inesperada, o corpo, o organismo, poderá tentar descobrir formas de lidar ou
combater, valendo-se de qualquer recurso que se mostrar disponível em si mesmo.
Contudo, vale lembrar que, só podemos acessar "armas para lutar", se
estivermos em vigília, isto é, se tivermos consciência do “suposto inimigo”. Se
tivermos ideia de sua extensão, magnitude e intensidade, poderei mensurar o
quanto de recursos e habilidades terei, para poder lidar, de forma contínua,
contra as limitações que são impostas, que compromete parte do desejo e também,
parte da mobilidade e coordenação.
Perguntas que
precisamos responder:
1) Quanto a criança tem (ou não), de consciência, sobre o problema ?
2) Responde à algum estímulo provocado, em alguma região do corpo ?
3) Que comandos tem, sobre quais ações (inclusive mental) ?
4) Manifesta reações à sustos, que são provocados ?
5) Reaje quando é levemente beliscado ou espetado ?
6) Reaje quando um objeto desliza sobre o corpo e partes ?
7) Quais partes aparenta ter algum controle mental ?
8) É treinado à observar direções e objetos ?
9) Corresponde ou reconhece à eles ?
10) É treinado(a) ao exercício da fala ?
11) Reconhece pessoas, objetos e
lugares ?
12) Como se dá essa reação ? Existe lugar que a criança não gosta ?
A suspensão de algumas habilidades, não representa perda ou
impossibilidade permanente, apenas pode indicar que não houve tempo hábil (para a criança) para
que tal membro tenha sido exercitado com consciência. Enquanto no útero, cada movimento é dado por
estímulo, quando nasce, cada parte do corpo é descoberto de forma lenta e
progressiva, à medida que vai sendo (oportunamente) necessário. Enquanto assim não se fizer, a criança mal
sabe que tem (pernas, por exemplo), ou cabelo (até que puxe) ou se veja no
espelho.
Assim sendo, parte das limitações, que são apresentadas num
diagnostico de paralisia cerebral, podem, talvez, esconder limitações psicológicas, não
relacionadas diretamente, com o problema em questão. É de se esperar que uma criança ou bebê, possa não manifestar-se conscientemente, no sentido de se auto-ajudar mas, existe
uma forma de tornar possível, suas defesas, inconscientemente (e até involuntariamente), por seus dois inconscientes (como qualquer pessoa). Ambos inconscientes
“nascem” junto com a formação completa do feto, sendo que apenas 1(hum) deles (nesse período), trabalha em benefício do próprio corpo, procurando ajudá-lo e protegê-lo, dentro dos
recursos que lhe for permitido.
Entre esses recursos, está o de gravar e guardar, experiências
vividas pelo feto, que venham à causar-lhe dor, incômodo ou perturbação, guardando essas memórias, até que o corpo cresça
e tenha condições para lembrá-lo e
consequentemente, entender o “recado” (o qual se resume apenas, na lembrança
das sensações vivenciadas). Como é
difícil entender uma sensação que não conhece sua origem, muitas delas se
transformam em transtornos psiquiátricos.
O inconsciente continuará tentando lembrá-lo do evento (como um carteiro
à insistir na entrega de um "pacote").
Enquanto negarmos o pacote, por não entendê-lo, o "carteiro" será insistentemente, até que consiga.
Em nosso caso, de paralisia cerebral, a parte da mente (do segundo inconsciente), responsável
por abrigar a formação da razão, conhecimento e de informações diversas, que
não se desenvolveu (em razão de sua “aparente” limitação), pode estar ainda,
esperando para ser explorada e enriquecida, com informações básicas, como
família, noções de afeto, carícia, voz da mãe, do pai, do médico, gesto,
brincadeiras, palavras e associações diversas.
Tudo isso, em muito, pode corroborar no tratamento, correspondendo à
comandos e estímulos, buscando cada vez mais, que se promova, na criança,
alcançar uma autonomia, que lhe favoreça desempenhar atividades mínimas e
básicas, como alimentar-se, tomar líquidos, pedir coisas, chamar pessoas, etc.
Até que essas informações sejam incorporadas e absorvidas, a
criança ficará mais limitada, sem muito controle de coordenação motora ou de
fala. Para ajudar na fala, pode se fazer
um painel de fotos (poucas fotos), com os momentos mais frequentes da criança,
como banho, papinha, papai, mamãe, vovó
e irmãos, carrinho de bebê, o brinquedo, a atividade que mais
gosta. Pode-se estimular, no começo, a
mãe apontar (e pronunciar) as fotos, para o bebê (ou criança maior), para ir se
familiarizando com o ambiente. Pode
incluir também, a foto do médico ou médica que o(a) acompanha.
Muitas vezes vemos a criança, agir como se
fosse ainda, um feto, mais gemendo que gesticulando. Isso representa a falta de construção de
linguagem. Isso pode ser fotografado e guardado, como uma referência de tempo e
de evolução de tratamento, para saber à quanto se está evoluindo, no processo
de autonomia da criança (ou jovem), que é o momento (conforme já mencionei), que ela
pedirá coisas, chamará pessoas ou apontará para a foto que deseja ter ou fazer,
num dado momento. Quando se acredita, tudo se torna possível.

À medida que o tempo passa, a criança ou jovem, já poderá pronunciar algumas
palavras ou sílabas, relativo à algum desejo ou à uma foto específica. Crianças tem sentimentos e elas procurarão manifestar isso de alguma forma, desejando colo, abraço, um beijo, até mesmo
como recompensa por algum progresso. Exercícios
com os braços, as pernas, com andador, jogar e tentar apanhar bola, pendurar um
brinquedo num barbante e fazer com que ele levante os braços para
tentar pegar, estimulando coordenação, através de uma ação específica. Pôr uma cesta de basquete (ou improvisar com um
baldinho), na parede, à altura da criança, sentada, para jogar
dentro, as bolas (que pode ser de papel), estimulando com recompensa. Feche a saída da cesta, pois em algum momento em que estiver sozinho(a), poderá tentar colocar a bola, para esperar uma boa recompensa. rsr
Pense na criança como um HD vazio de computador, precisando ser
preenchido com os programas, pra rodar de forma satisfatória. Precisa aos pouco, trocar o fazer por ele,
com o “fazer ele fazer” e atribuir a recompensa, que pode ser um abraço, um
beijo, um carinho, uma colher de iogurte, etc.
À medida que for evoluindo pode “aumentar” as tarefas à fazer, como
ensiná-lo à pedir água, biscoito, geleia, etc.
O ensinamento não pode parar, palavras novas precisam fazer parte do
repertório de aprendizado. Quanto mais
aprender, mais interativo e colaborativo será e, sentindo-se útil, será ainda mais feliz.
Criança com paralisia tem limitações ? Pode ter .
Mas vamos fazer o que pudermos para tornar a vida dela, mais interativa,
participativa e mais feliz. Depois a gente vê o que sobra de
limitação. Se sobrar.
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista