Perto de um milhão de pessoas se matam
por ano.
Ao
contrário do que muitos acreditam, a ideação suicida não é voluntária,
consciente ou por vontade própria. Somos
administrados nada menos do que por dois inconscientes, sendo um racional, enquanto
o outro, imaturo e é sobre este que repousa a culpa do suicídio, como ? Ao
inconsciente racional lhe cabe o ônus de encontrar para nós, todas as respostas
de que precisamos para o nosso dia a dia, para todas as nossas necessidades, de
diálogo, trabalho, canto, apresentação, representação, etc. Conforme já dito em outros artigos aqui mesmo neste blog, o corpo obedece aos dois inconscientes, de forma alternada.
Essas
respostas são dadas, desde que já absorvidas e inseridas em nosso banco de
dados, isto é, dentro do acervo de tudo que já assimilamos durante toda a nossa
vida. À medida que nos falta
informações específicas, a panela das reações começa à ferver, tendendo nós à
ficarmos apreensivos, tensos, impacientes, bravos, tristes, com raiva,
desesperado, angustiado, enfim, a reação que mais se aplica à intensidade do
momento em questão.
Estas
reações são provenientes do inconsciente imaturo (Id), que possui
aproximadamente, idade semelhante à de uma criança de 3 anos de idade, com
todas as características que lhe são peculiar, entre elas, não temer ou pressentir perigo nem medir consequências.
As respostas que por ventura este inconsciente prover, certamente
haverão de nos causar constrangimento de alguma forma, quando não, reações mais
severas.
Ambos
os inconscientes, Ego (o racional) e o Id, trabalham de forma alternada, ou
seja, sempre o Ego terá a prioridade de nos ajudar porém, se este falhar, o Id
automaticamente assumirá a função de nos ajudar, sem nosso consentimento e sem os quesitos de
racionalidade, valendo-se do que tiver à disposição e que atendam à demanda de
intensidade do momento, bem como que tenha a eficácia apropriada à mesma
demanda.
Imaginemos
uma estante com uma infinidade de prateleiras, onde nela se encontram os
artifícios que estão à disposição do Id, sempre que o Ego não
conseguir nos ajudar, basicamente por não termos tido a iniciativa de absorver
conhecimentos e valores, os quais gostaríamos de ter como respostas em
situações específicas e, em quantidade aritmética, para que o ego possa, de
imediato, encontrar o que procura.
Na
estante que imaginamos, as prateleiras mais altas reservam os recursos mais
críticos e não saudáveis, caso o momento exija tal resposta. Em suma (de cima para baixo) são recursos
como ideação suicida, drogas mais pesadas, que fazem efeito imediato, como
crack e cocaína; álcool, etc. Se um
desses recursos for escolhido pelo Id, ele simplesmente fará com que o corpo
aceite ou procure, dependendo apenas que algum fator alheio o impeça. Resta ainda esta esperança.
Vale
lembrar que se uma pessoa “foi sorteada” com a escolha do suicídio, ela se
tornará criteriosamente seleta no que deseja ouvir, caso alguém tente
persuadi-la do inverso. Será como
tentar adivinhar uma senha de internet, porque não se sabe a razão verdadeira
de sua intenção, promovida pelo inconsciente.
Enquanto o Id tenta impôr sua “escolha”, o Ego desesperadamente tentará
fazer o inverso, fazendo-a com que chame a atenção de alguém, para tentar
contê-la. O suicida acredita na causa que imagina ser. Raras vezes coincide.
Somos pretensiosos em achar que podemos controlar uma situação, mas nada fazemos de
fato para isso, apenas entregamos nossa vida ao acaso, esperando que nosso corpo
nos obedeça quando desejamos. Para
fazer o carro mover-se, de nada adianta mandá-lo andar, se não pusermos
combustível, bateria, calibrarmos os pneus e fazer uma série de coisas, para
termos o carro sempre que precisarmos.
Da mesma forma nosso inconsciente racional, pois será ele que promoverá
tudo que precisamos e ainda controlará as ações do Id, desde que tenha como
fazê-lo, desde que inserimos o necessário para fazer o seu trabalho. Não podemos mandar um pedreiro trabalhar se
não lhe dermos tijolos, cimento, areia e ferramentas, não é verdade ?
Portanto,
não se brinca nem se julga uma pessoa que está manifestando desejos suicida,
pois que ela começa à perder de fato, o pouco de controle que tinha de si
próprio, que é a mesma falta de controle de uma pessoa que à julga (ato também
manifestado pelo Id) quando feito de forma imprudente e negligente, pois quando
o julgamento é prudente, ele advém do Ego.
Já disse em meu Blog que, se quisermos
entender o mundo que nos cerca e as pessoas, devemos primeiro entender à nós
mesmos. Não sofremos por ter algum tipo
de problema, sofremos por não entender o problema, sua dinâmica, origem e qual
nossa responsabilidade e participação nele.
Se soubermos compreender isso, teremos vida de estável pra feliz. Acredite. A estatística (do título) acima só acontece por culpa de
nós mesmos, por culpa dos que não nos preparam para a vida, dos que não nos
ensinaram à pensar. Quando crianças, somos reféns dos nossos pais, dependendo
deles uma série de informações e conhecimentos, sob o pretexto de pelo menos,
sofremos menos, para vivermos melhor.
Mas nem sempre é o que acontece e os filhos acabam sofrendo, quando
pequenos, jovens, adolescentes e adultos, porque lhes faltou o essencial.
O
suicídio é o recurso que está sempre disponível e cada vez mais utilizado. Pense nisso.
Professor Amadeu
Epifânio
Pesquisador / Psicanalista